5 de fevereiro de 2016

Tenho em mim todos os padres do mundo

A lógica da sexta-feira é que seja um dia agradável, luminoso e desprendido, vivido com aquele sentimento de dever cumprido, em que a canseira da semana se abate de forma leve e até complacente nos ombros derrubados pelo peso dos braços.
A sexta-feira é o dia em que se descansa das muitas mais de 35 horas que o Estado-bom impõe aos seus trabalhadores-bons.
A sexta-feira serve, essencialmente, para dar um saltinho ao escritório, tirar o bold dos emails, ir comer qualquer coisa à rua (numa manifesta greve! à marmita), esticar as pernas, levantar os braços, suspirando muito fundo, como se acabássemos de chegar a casa.
A sexta feira não é um just another day at the office, but, simplesmente, mais um dia no kindergarten do escritório-mau.
Só que não.
A minha cara sorte não aparece para o chá, às sextas-feiras.
Não, as minhas sextas-feiras são frenéticas, cinzentas, frias, cheias de papelada para tratar, pessoas para falar, telefones a tocar, pessoas amarelas, pessoas que fumam, pessoas que chateiam, pessoas que falam alto, pessoas que cantam, pessoas que devem dinheiro a outras pessoas, pessoas que beijam só de um lado, pessoas, pessoas, pessoas.
Não é, posto isto, uma brincadeira de crianças.
À sexta-feira, todo um céu desaba na minha cabeça. Ele é a colega a que vem disparada escada abaixo rebolando a grande bilha para me entregar a notícia que temos um fora-de-prazo, ele é o motorista que adormece num quarto escuro dos subúrbios pela 8º vez esta semana, ele é o quadro elétrico que já não lhe apetece dar energia ao meu departamento e desliga-se repentinamente...
Ei?! Alguém com um isqueiro por aí?
Para mim a sexta-feira é somente o dia onde tudo, invariavelmente tudo, se embrulha para se desembrulhar na segunda-feira seguinte, depois de um fim se semana extenuante a lavar roupa, a estender roupa, a passar a ferro, e vupt vapt, 3 miseras horas depois chegar a segunda feira, e em frente ao espelho onde se desenramelam os olhos esta pessoa se aperceber que devia ter pintado as raízes em vez de estar agarrada à Elena Ferrante.
E é isto a minha vida.
Sou uma perdida das sextas-feiras, sou um padre onde os problemas se me enfiam por baixo das saias, qual confessionário de beatas tesudas.

Boa sexta-feira para todos que eu agora vou ali ter com eletricista que veio ver o quadro elétrico, mesmo em cima da hora… de eu ir almoçar…

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