18 de junho de 2015

A obra prima

Não sei se já tinha referido mas abandonei o canal de notícias definitivamente.
Não é uma coisa nova, mas não deixa de ser uma coisa boa.
Não sei de nada, mas sei cada vez mais.

Hoje por exemplo encetei um livro novo.
É um livro tão precioso, tão imensamente bom, tão maravilhosamente escrito, que estou em condições de vos dizer  - e sei que para muitos o que vou escrever a seguir constitui crime e ofensa grave -, que logo que li as primeiras linhas, corri a buscar um abre-olhos, e já tenho tudo sublinhado, tudo apontado, tudo exclamado, para reter e usar (na medida do possível e dentro das minhas muitas limitações), para entender e saber, sem sombra de dúvida, que linha coseu aqueles dois hemisférios que em conjunto escreveram um livro assim.
É uma linha de pesca, pensarão vocês. 
Somente a linha de pesca, elástica, translúcida, brilhante, inquebrável, infinita, pode coser ideias tão saborosas como só o mar nos sabe trazer. 
Ou será antes a corda que amarra o boi argentino, forte, pesada, inquebrável, laçando sem dificuldade o melhor que a terra nos dá, depois do pão?
Não sei, por isto, e também por outras coisas que vou aos poucos sabendo, o que faça com o livro. 
Não sei se o coma, se o marisque.
Não sei se arrisque em dizer-vos já, como diz o homem erudito que nunca fere as palavras 'isto que está a ler é muitA bom', ou se afinal é outra coisa diferente de bom.
E pus-me agora a pensar: tão bom como as primeiras golfadas de ar que respiramos, depois de nos largarem o pescoço? tão bom como os primeiros goles de água fresca, depois da longa caminhada? tão bom como a solidão, esse fardo, essa angústia, essa maldição, forjada claro, depois do esmagamento que nos impõe a coletividade omnipresente?
Tão bom assim não sei se será. 
Talvez seja dos meus olhos, deve ser mesmo dos meus olhos, que na ressaca da atualidade bruta, da falta da imagem (i)refletida da TV, vêem nos livros, esses seres vivos, que falam e andam, que matam e criam, magnânimas partes de um todo desigual, verdades tão pouco absolutas, dúvidas que somente querem o seu querer, de perguntar e responder, e dar-nos algumas respostas.
Quão bom é este livro?
O livro, como a guerra, ambulante e perpétua, que realiza e desfaz, é a unidade da humanidade, e isso é bom?
Porquê?
Porque ninguém, em nenhum dos casos, pode escapar para parte nenhuma, sem lhe seguir de certa forma o rasto.
Melhor que seja um bom livro. 
Melhor que seja uma justa guerra.

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