8 de abril de 2014

De médico e de louco, todos nós temos um pouco...

No caso em apreço, vou mais para a última hipótese, já que me parece a mais acertada.
Vejamos:
A minha tia Olinda, que aqui há tempos se viu a braços com um brutal desarranjo intestinal, correu à casa da vizinha, ainda agarrada às calças, às cuecas e a tudo o que podia, para que a dita senhora lhe dissesse o que fazer, para se curar da fenomenal diarréia.
Ora a vizinha da minha tia Olinda, senhora muito culta e de costados altaneiros, é, pelo que sei e pelo que se ouve falar lá na terra, grande especialista em migas de espargos, o que já dá para perceber, e de longe, que a experiencia acumulada nos anos sem fim, a confeccionar aquele prato típico do meu Alentejo, lhe deu total confiança para prescrever à minha tia, a melhor mezinha para o problema da soltura, vá, destempero, que a pobre tia Olinda, padecia.
Pois muito bem.
A minha tia, desesperada e sem saber mais o que fazer, viu-se sentadinha num penico improvisado, que a vizinha lhe arranjou, para não espalhar as caganitas pela casa fora, como fazem as ovelhas, e preparou-lhe uma infusão de espargos, coisa de sua especialidade, ao que lhe juntou uma cabeça de alho, cozida em mijo de cabra, receita misteriosa dos seus antepassados (sim, aqueles que só vivem até aos 30 anos, carregadinhos de não-presta) e deu-lhe logo a beber, como se o extraordinário remédio, além de lhe parar a soltura, a fizesse mais nova 5 anos.
A pobre tia Olinda, que por aquela altura já não sentia o rabiosque, bebeu de um trago a estranha infusão.
Seguiu-se depois um invulgar episódio.
Os espargos fizeram o efeito contrário, e o alho cozido naquela mijança, ao invés de parar a caganêra (é assim que se diz no Alentejo) aumentou os gases e a circulação intestinal. Escusado será dizer que a minha tia Olinda, largando um peido que fez tocar o sino da igreja, ficou com a tripa de fora, e caso a vizinha não lhe tivesse dito que o melhor era aproveitar aquilo para fazer uma chouriça (que por acaso até vai muito bem com as migas), a minha tia não tinha sido levada para o hospital de Beja, apavorada, coitadinha, num estado mesmo lastimoso e com um aroma de fazer cantar vinte galos.
Ora, em chegando ao hospital, já toda a familia a acompanhava, entre os quais, os dois filhos mais velhos, que andam lá para Lisboa, na faculdade da vida de comunicação e outra coisa qualquer que agora não vem à memória.
Foram logo atendidos, passadas 4 horas, e deram de caras com um médico cubano muito mal disposto.
Armou-se logo ali uma grande confusão, pois cada um sabia exatamanente o que fazer à pobre senhora, tendo consultado até e durante várias horas, a internet, sabendo assim e com toda a certeza o que o médico havia de prescrever à mãe, que fora concerteza atacada por um vírus, ou por uma bactérica -  o que vai dar ao mesmo, já que os remédios que as pessoas utilizam para ambos até são iguais (NOT) -  ou até por algum bicho-vermelho do campo, desses que também fazem brotoeja, e já ali levavam impresso todo o quadro clinico, e bem assim, a medicação e a alimentação mais ajustada aquele invulgar caso.
Ora, este pequeníssimo e caricato exemplo, pode ser, que é, extrapolado para toda uma panóplia de doenças e achaques, que chegam todos os dias aos gabinetes dos nossos caríssimos médicos de família, dermatologistas, podologistas, ginecologistas e todos os acabados em istas, e pasme-se, até mesmo aos conceituados cirurgiões.
Por estes dias as pessoas não precisam de médicos para lhes fazer o diagnóstico, o que precisam é de um site na internet que lhes mande os medicamentos para casa, através da sua própria escolha medicamentosa. O que sabem esses médicos de hoje em dia, de doenças? A maioria dos médicos que aqui temos nem sequer são cá da terra, como podem eles saber de caganêras alentejanas?
E se for preciso uma operação à barriga? Então essas mulheres do campo, habituadas a tantas matanças de porcos, galinhas, perús, coelhos e outras bichesas bravas, incluindo ouriços, não sabem tão bem como abrir a barriga a uma pessoa. Então e a vizinha da minha tia Olinda, não terá inclusive curado a pobre senhora (lá na terra é só do que se fala), já que acelerou o processo de expulsão do mal que ela lá tinha lá dentro?
Fiquem já vocês sabendo: a vizinha da minha tia é que a curou. Não fosse aquele peido que ela lá largou no corredor, e ainda hoje estava internada no hospital, coitadinha, à mercê de médicos cubanos, e calhando já morta. 
Por isso, meus amigos, é que no Alentejo não há ninguém doente. Podem estar um bocadinho nauseados, mas isso há de ser dos alhos...

3 comentários:

  1. Isto é que vai aqui um post de caca ahahahah

    Beijinho
    http://socorro-mudeioblog.blogspot.com

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  2. enquanto lia o teu texto o raio do cão (que não há meio de aprender) fez uma poia (gigante) mesmo atrás de mim. por breves segundos, senti-me dentro do panorama da tua tia Olinda e pensei "fogo que a Uva escreve mesmo bem". não fosse eu já reconhecer aquele cheiro hediondo à légua, e ter de interromper a leitura para dar umas vergastadas no bicho. Ainda assim, mantenho o pensamento arriba!!

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